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BYD Song Pro é SUV híbrido mais barato do Brasil, mas repete erro do King

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BYD Song Pro
BYD Song Pro Foto: Luiz Forelli/Vrum

A BYD virou o mercado brasileiro com o Dolphin, hatch eletrificado que caiu no gosto do público e abriu caminho para a marca chinesa. Em 2024, a estratégia ganhou força com o Dolphin Mini, elétrico mais vendido do Brasil hoje, forçando concorrentes a baixar preços e provando que BYD sabe entregar custo-benefício imbatível. Depois de declarar guerra de fato com a Toyota com o sedã King, a marca agora mira o segmento dos SUVs, a grande febre do momento, e lançou o Song Pro em julho de 2024.

Atualmente lidera como o híbrido mais vendido do Brasil e o SUV híbrido mais barato à venda, com preços que começam em R$ 194.800 (GL) e chegam a R$ 204.800 na versão GS, testada por nós. O alvo principal é, claro, o Toyota Corolla Cross Hybrid (R$ 219.890), um dos favoritos do segmento. 

Com armas como autonomia elétrica e design moderno, o Song Pro enfrenta um segmento já bem consolidado como Volkswagen T-Cross, Chevrolet Tracker, Hyundai Creta e Jeep Com, que ainda resistem à eletrificação, mas sentem a pressão. Porém, nem tudo é perfeito. Assim como no King, a BYD cometeu erros que podem custar caro, e alguns deles se repetem aqui.

DIMENSÕES E ERGONOMIA

O BYD Song Pro é um SUV médio que fica um degrau abaixo do Song Plus em preço e posicionamento, mas curiosamente tem 33 mm a mais que o irmão mais caro. São 4,73 metros de comprimento, 1,86 m de largura, 1,71 m de altura e 2,71 m de entre-eixos — números ótimos para a categoria. Comparando, o Song Plus tem 2,76 m de entre-eixos, enquanto o Corolla Cross fica com 2,64 m e o Jeep Com, 2,63 m. O espaço é uma vantagem clara, mas pra quem prefere algo mais compacto, como o Corolla Cross de 4,46 m, o tamanho do Song Pro pode ser um problema em manobras ou garagens apertadas.

BYD Song Pro
BYD Song Pro Foto: Luiz Forelli/Vrum

Quem busca espaço, no entanto, vai gostar do que encontra. Com 1,88 m de altura, no banco traseiro sobraram quatro dedos entre meu joelho e o assento da frente, mesmo com o banco dianteiro todo recuado. O conforto, porém, não é perfeito. Os bancos são muito inclinados para trás, o que incomoda quem prefere uma posição mais ereta. Ainda assim, o Song Pro entrega mais espaço que o Corolla Cross, além de mimos como saídas de ar, portas USB-C e A, e um apoio de braço escamoteável. O porta-malas também manda bem, com 520 litros de capacidade, superando os 440 litros do Corolla Cross e até os 498 litros do Volkswagen Taos. 

Mas tanto espaço tem seu preço. A ergonomia para motoristas altos, como eu, deixa a desejar – e fica bem atrás do Corolla Cross. O banco do motorista não recua o suficiente no trilho, o que deixa as pernas pouco esticadas, e em viagens longas, cansa, mesmo na posição mais baixa. O volante, apesar de ter ajuste de altura, não regula a profundidade como deveria. Pessoas menores não vão sentir isso, porém o console central alto ajuda, com botões à mão, multimídia bem posicionada e um volante de pegada firme.

MOTORIZAÇÃO E COMO ANDA 

A BYD também não economizou na motorização do Song Pro, apostando em um conjunto híbrido eficiente e potente. O sistema DM-i traz um motor 1.5 aspirado a gasolina de 98 cv e 12,4 kgfm de torque, que trabalha junto a um motor elétrico dianteiro de 197 cv e 30,6 kgfm de torque. Juntos, eles entregam 235 cv de potência combinada, com torque estimado em torno de 43 kgfm – o suficiente para empurrar os 1.735 kg do SUV da inércia aos 100 km/h em 7,8 segundos no modo Sport, segundo nossos testes. Isso supera os 7,9 segundos prometidos pela marca. 

BYD Song Pro
BYD Song Pro Foto: Luiz Forelli/Vrum

O Song Pro segue a mesma receita dos híbridos da marca e oferece três modos de condução – Eco, Normal e Sport – que alteram a minimamente a sensibilidade do acelerador, o peso do volante e a entrega de potência. A dirigibilidade é bem típica dos BYD, dentro do esperado, com um comportamento confortável, mas não espere emoção. 

Mesmo no modo Sport, o Song Pro não surpreende em potência. Ele até ganha velocidade de forma decente, com boas arrancadas graças ao motor elétrico, mas não a empolgação para quem gosta de uma tocada mais esportiva. O foco aqui é claramente o conforto, não a esportividade.

Na estrada, o conforto se resolve bem com o conjunto. A suspensão macia faz um ótimo trabalho em velocidades de cruzeiro, absorvendo bem as imperfeições do asfalto e mantendo o carro estável. A direção com assistência elétrica progressiva tem um peso agradável, e a plataforma transmite segurança, o que dá confiança para rodar. O motor elétrico também ajuda nas ultraagens e acelerações, com uma resposta rápida, isso é ainda mais útil para sair de situações de emergência e na cidade. 

BYD Song Pro
BYD Song Pro Foto: Luiz Forelli/Vrum

Mas é ganhar maiores velocidades com o SUV que é possível sentir a carroceria ficar mais instável, principalmente na traseira. A falta de comunicação do volante entre o conjunto e o motorista fica evidente, algo comum nos BYD por causa da suspensão mais voltada ao conforto. 

O problema mais sério aparece em curvas acentuadas em velocidades mais altas. A suspensão do Song Pro tende a inclinar bastante, e o volante não é tão responsivo, o que prejudica a comunicação com a plataforma. O que piora, de fato, são os pneus Giti 225/60 R18, de origem indonésia. Eles patinam demais, cantam alto ao arrancar e não entregam a aderência necessária em curvas fechadas mais bruscas. 

BYD Song Pro
BYD Song Pro Foto: Luiz Forelli/Vrum

O resultado é uma saída de frente, com o carro não seguindo a trajetória como o esperado. Apesar disso, o Song Pro até faz curvas de forma aceitável em situações normais, mas os limites de apoio lateral e comunicação são claros. Por outro lado, na cidade, o BYD Song Pro mostra seu lado forte com a suspensão Mherson na frente e multilink atrás fazendo um ótimo trabalho, absorvendo os buracos e solavancos das ruas com suavidade sem o fim de curso. 

Com a bateria vazia, o motor 1.5 aspirado entra em ação a maioria do tempo, e o desempenho cai um pouco, mas não chega a atrapalhar. O carro ainda responde bem, só perde um pouco do vigor. A transição para o motor a combustão traz um leve incômodo sonoro e vibracional, perceptível dentro da cabine, mas nada que chegue a incomodar de verdade. 

CONSUMO

O consumo na cidade, no modo HEV em nossos testes marcou 24 km/l com a bateria cheia, caindo para 18,1 km/l quando o motor térmico assume a maior parte do trabalho para carregar a bateria (quando abaixo de 25%). Na estrada, no modo HEV, conseguimos 14,7 km/l. A autonomia só elétrica chegou a 87 km, superando os 68 km do Inmetro, com um tanque de 52 litros. Isso dá cerca de 1.000 km na cidade e uns 780 km na estrada. 

Há também o modo SOC na gestão de energia pelo multimídia, que permite recarregar a bateria com o motor a combustão. Pelo menu, dá para definir um nível de carga entre 25% e 70%. Com isso, o motor trabalha mais, mesmo em movimento, só parando quando o carro está parado, e ajuda a recuperar carga sem tomada. O lado ruim, claro, fica no consumo, que sobe bastante, já que o sistema foca na bateria — é útil quem precisa de mais potência.

SEU RIVAL DIRETO

Você lendo essa matéria, interessado em um Song Pro, pode se perguntar as diferenças no comportamento do Corolla Cross. Na estrada, o Corolla Cross a mais firmeza, ainda mais em curvas e altas velocidades, com uma estabilidade que transmite segurança. O Song Pro, por outro lado, leva vantagem no desempenho, sobretudo com a bateria cheia, entregando torque imediato nas ultraagens, situação que o rival híbrido não acompanha. 

INTERIOR E EQUIPAMENTOS

O interior do BYD Song Pro segue o padrão caprichado da marca, com materiais de qualidade que agradam. O tem acabamento soft-touch, as portas trazem bom acolchoamento e os materiais são bem encaixados, sem rebarbas ou saliências. A central multimídia giratória de 12,8 polegadas responde rápido, é intuitiva e tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Mas o CarPlay decepciona por conta da conexão que demora para engatar e, às vezes, só funciona com emparelhamento manual, o que irrita.

BYD Song Pro
BYD Song Pro Foto: Luiz Forelli/Vrum

O digital de 12,3 polegadas é claro e entrega as informações principais, mas não espere personalizar muito – as opções são limitadas. Ainda assim, faz o básico com competência. O Song Pro também tem bons mimos, como faróis de acendimento automático, ar-condicionado digital de dupla zona, direção elétrica, banco do motorista com ajuste de altura, vidros e travas elétricas, chave presencial, partida por botão, freio de estacionamento elétrico com auto hold, câmeras 360 graus e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros. 

Mas aí vem o calcanhar de aquiles do Song Pro, igualzinho ao irmão King, a falta do sistema ADAS (assistente autônomo de condução). Nada de piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma, assistente de faixa ou sensor de ponto cego. O que tem é só um piloto automático básico, daqueles que não acompanham o trânsito. Para um SUV que briga com concorrentes modernos e cobra um preço salgado, é uma falha grande, imperdoável.

Falando em segurança, o Song Pro traz o básico: freios ABS, controles de tração e estabilidade, seis airbags (frontais, laterais e cortina), assistente de partida em rampa, freios a disco nas quatro rodas e monitoramento de pressão dos pneus. Quanto às cores, o SUV chega ao Brasil em branco, cinza ou azul, com interior só na tonalidade caramelo – sem opção de tons escuros.

RESUMO DA ÓPERA

O BYD Song Pro mostra que entrega o que promete. Tem boa potencia, com vantagem sobre rivais, espaço, conforto, acabamento caprichado, economia de combustível e uma autonomia que impressiona. É um ótimo pacote para famílias que querem um SUV híbrido sem gastar uma fortuna, ainda mais por ostentar o título de híbrido pleno (não MHEV) mais barato do Brasil. 

Mas tropeça feio na falta de sistemas ADAS, nem uma frenagem autônoma ele tem, o que é um pecado para segurança em um carro desse preço. Quem não liga para esse furo, é uma escolha certeira. Agora, se segurança é prioridade, talvez valha esticar o orçamento para linha Song Plus ou caçar um Corolla Cross usado em bom estado.